segunda-feira, 11 de julho de 2011

Entre sapos e príncipes

As meninas e os sapos


Dou aulas para um monte de adolescentes há dezoito anos! Lá vêm os quarenta chegando de novo – coisa que está de verdade me incomodando (mas isso é papo para outra hora).

Pois é. Dou aulas há um bom tempo (melhor falar assim). E de vez em quando vejo uma menina (com quatorze, quinze, dezesseis e por aí vai) com um olhar perdido, (olhando através de mim e não para mim) quando falo de textos, acentos, variação linguística e mais um monte de assunto que meus alunos acham que não fazem o menor sentido! E talvez não faça mesmo se isso não for bem contextualizado, se eles não forem bem envolvidos, seduzidos, encantados por você. Mas o assunto não é esse. O assunto são os sapos (já digo logo que não dou aulas de Biologia, mas de Língua Portuguesa).

Quando olho essas meninas, chego perto delas e pergunto: “tá tudo bem?”, elas enchem os olhos de lágrimas e, se eu as abraço, o choro vem. Vem de verdade. Então falo para elas darem um pulinho no banheiro, lavarem o rosto e beberem uma água. Como se isso resolvesse a questão que as aflige! Resolve é nada! Mas pelo menos não vão chorar diante de uma turma de outros adolescentes que às vezes podem ser muito cruéis quando a dor não é deles.

Quando ela volta para sala de aula, e a turma está fazendo alguma tarefa, volto a perguntar o que é que a levou para outro planeta: e, geralmente, são os “príncipes”, o namorado, o “ficante”, ou sei lá que nome se dá a cada dia!

Mas a questão é sempre a mesma: as meninas ainda esperam um “príncipe encantado”, montado num cavalo branco, que venha salvá-las dessa vida entediante que elas fingem não viver. Mas é entediante mesmo para elas: escola, fofoca na escola (a maioria não vai à escola para estudar, mas para um “evento social”, onde encontrarão os amigos e conversarão sobre o que realmente lhes interessa – que não é a escola, com certeza!). Como a “Branca de Neve”, a “Cinderela”, “Rapunzel” e mais um monte de lindas histórias foram responsáveis pela espera dos príncipes! Como nos (e eu me incluo aí, porque também já fui adolescente) fizeram acreditar que os pobres coitadinhos dos meninos (também adolescentes e sem nenhum título de nobreza!) iriam nos salvar do tédio, trazer-nos a mais plena felicidade.

Acredito, e digo para elas (talvez eu possa estar errada, mas quem disse quem estamos sempre certos) que, na verdade, devemos procurar sapos, porque, por meio do beijo, eles vão se transformar em príncipes (outra invenção dos contos de fadas).

Mas, na verdade, é mais ou menos por aí. Ninguém, ninguém mesmo, deveria ser responsável pela nossa felicidade ou infelicidade. As meninas deveriam parar de procurar “príncipes encantados”, porque eles não existem. O que existem são meninos que também esperam a “princesa”, que também não existe: temos TPM e muita, muita mesmo, variação de humor; somos seres complexos, com hormônios que nos deixam quase à beira da loucura. Então parece uma eterna insatisfação: meninas e meninos procuram seres que não existem: só existem nos contos de fadas.

Busquem seus sapos e façam deles seus príncipes, não o do cavalo branco ou aquele que vai despertar você de um longo sono; e, sim, aquele que não é mostrado depois que o conto acaba no “e foram felizes para sempre”. O príncipe de verdade: que tem defeitos e qualidades, que um dia vai estar de bom humor e no outro não, que um dia lhe mandará recadinhos lindos e no outro nem lembrará que você existe porque foi jogar futebol com os amigos. Mas não se esqueça de você deve saber escolher e que não é ele que vai necessariamente fazer você feliz, e, sim, o conhecimento que você passará a ter de si mesma, das coisas que você é capaz de construir, de escrever, de ler, de pintar, de fotografar. Por isso, com sapo ou com príncipe, encontre de verdade quem você é e aí os sapos virarão príncipes. Ou não!